Falar do Zé Alberto é falar do meu ídolo. Ainda era miúdo quando o meu pai me falou dos grandes jogadores do basquetebol do Benfica: o Bernardo Leite e o Zé Alberto.
Proveniente do modesto Tabacos (mais tarde chamado Sª Engrácia) o Zé Alberto cedo se destacou na modalidade e naturalmente ingressou num grande.Não tive oportunidade de o ver jogar no Parque Mayer , mas recordo as histórias do velho Garranha (meu companheiro no CIF)que falava com orgulho dos míticos Benfica –Sporting e dos seus duelos com o capitão encarnado.
Nos anos 60 fui dos muitos jovens que seguia a super equipa do Benfica no velhinho Pavilhão dos Desportos onde o Zé, com as suas joelheiras à Bob Cousy, somava triunfos e dominava o panorama do basquetebol (6 campeonatos nacionais nessa década).
Mais tarde já no pavilhão da Ajuda tive oportunidade de o defrontar e a minha admiração e respeito aumentou. Com o regresso à Metrópole e ao Benfica do Prof. Teotónio Lima, tive finalmente a oportunidade de jogar com ele e logo entendi porque razão era o melhor jogador da sua geração: era o primeiro a chegar ao treino e o último a sair.
A época 72/73 fica marcada positivamente não só pelas conquistas (Campeonato Lisboa Divisão de Honra, Campeonato “Metropolitano” e Taça Portugal), mas também pelo facto de sob o comando do Zé Alberto termos sido a primeira equipa portuguesa a passar a barreira da primeira eliminatória numa prova europeia (na Taça das Taças vencemos o Sutton de Inglaterra). Fomos depois eliminados pelos Belgas do Racing Ford a quem conseguimos ganhar, em Lisboa, por 86-83 depois de termos estado a perder ao intervalo por 22-48 num pavilhão completamente esgotado e com o publico de pé a aplaudir de forma entusiástica a brilhante exibição do Benfica. Passados todos estes anos entendo ainda melhor o papel do grande capitão. Resolveu, antes deste jogo, um problema interno que parecia não ter solução. Sem a participação activa do Zé, o Vítor Pombo não teria jogado e o mais provável era termos perdido…
Recordo ainda com saudade o campeonato nacional em Angola: no derradeiro jogo com o Sporting Lourenço Marques, com mais de 6 mil espectadores, perdemos o jogo e o Zé, que tanto queria ganhar, acabou por ser expulso. O violento temporal que se abateu sobre Luanda obrigou a mudar de recinto de jogo. Passámos de jogar ao ar livre para o pavilhão e perdemos a oportunidade de ganhar tudo…
A única vez que fui titular no lugar do meu ídolo, aconteceu nesse campeonato frente ao F.C. Luanda para marcar o americano Clarck. Claro está que a equipa melhorou de produção e chegou a mais uma vitória com a entrada do titular indiscutível.
Recordo o Zé Alberto como um jogador completo que jogava bem em todos os lugares, um verdadeiro “all around player”. Dominava com poucos os fundamentos ofensivos com um trabalho de pés que deixaria hoje muito jogador envergonhado. Os primeiros minutos do treino eram livres e o Zé quase sempre na companhia do saudoso Joaquim Carlos aproveitava o tempo para aperfeiçoar os arranques, as saídas em drible, as fintas ou ainda tinha tempo para desfiar o 1x1 com os mais novos para testar os novos movimentos. Nos lançamentos ficávamos espantados porque em compita com o Simões e companhia, raramente falhavam sem oposição.
Nos jogos inventavam combinações ofensivas que só eles entendiam. Sinais que chamavam parcerias antigas em movimentos de 2x2 e 3x3, enquanto que eu e os mais novos jogávamos sem bola…
Como capitão, teve sempre uma palavra amiga para com os mais novos procurando transmitir a mística benfiquista que tinha na vitória o seu objectivo principal. Nunca conheci, ao longo de toda a minha carreira de jogador e treinador, alguém tão competitivo como o Zé. Perder não fazia parte do seu vocabulário…
Enquanto adversário, também eu pensava que “eles” tinham mau feitio, só mais tarde entendi que afinal o que tinham era espírito de grupo e amor ao Clube e ao basquetebol…
Já veteranos, o Zé de quando em vez telefonava-me para jogar na equipa. Lá ia eu todo entusiasmado na esperança de finalmente jogar a titular. Para surpresa minha, ou talvez não, o capitão logo me dizia “ como és treinador aproveita e orienta esta equipa”. E mais uma vez ficava a ver o Zé a comandar as manobras…
Das poucas coisas que me arrependo no basquetebol, foi não ter aceite mais cedo o convite do Benfica como jogador, para desfrutar ainda mais da companhia do Zé e dos companheiros.
Finalmente, o meu grande sonho foi sempre ser treinador do S.L.B. e pensava para os meus botões: se isso um dia acontecer a primeira grande contratação vai ser o Zé Alberto, porque é no Benfica que ele se sente bem, até porque é benfiquista desde pequenino…