Educar para a autonomia

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altDeixem os vossos filhos crescer. O final de cada jamboree representa para mim, sempre um momento de reflexão. Ensinar, ajudar a acompanhar, enquadrar e observar  cerca de uma vintena de treinadores/monitores, e setenta e dois minis é sempre é uma experiência irrepetível com a qual se está sempre a aprender.

Entre alguns pais, há sempre a sensação que no seu tempo tudo era diferente, que os jovens eram mais responsáveis e autónomos. Nestas afirmações dos encarregados de educação, geralmente muito subjectivas, normalmente o problema, o que está em causa são sempre as crianças e os jovens, nunca são os próprios adultos, que proferem tais apreciações.

Contudo depois de ter participado em quase três dezenas de jamborees, sei que os maiores problemas que nos vão surgindo, felizmente não muitos, não são causados pelas crianças, mas principalmente por alguns adultos, nomeadamente quando estes projectam os seus desejos, temores ou frustrações sobre nos seus filhos, e no final também acabam, às vezes manipulados por estes. A linha entre o acompanhamento e a crescente necessidade de autonomia, nem sempre é fácil definir, mas temos de os deixar crescer.

Quanto ao grau de responsabilidade dos mais jovens que estão a enquadrar os minis durante os jamborees é evidente que há os mais experientes e os mais infantis. Quando estes últimos são uma parte significativa dos monitores é evidente que tenho mais trabalho no enquadramento, mas por outro lado, muitas das vezes consegue-se uma maior proximidade entre os minis e os monitores. Todas as situações da vida tem vantagens e desvantagens. Contudo, quando observo jovens com a maturidade da Margarida Campelo de Ponte de Lima, ou noutros tempos da Ana Machado de Gouveia, entre muitos outros exemplos, que poderia citar é sempre para mim um sinal de conforto, e de perceber que as generalizações são muito perigosas e que em todas as gerações há jovens de grande valor e grau de responsabilidade.

Li com atenção todos os comentários do “Diário do Jamboree” e registei a maturidade e sensatez das palavras da Margarida jovem de 16 anos:

“Enquanto monitora deste Jamboree sinto-me na obrigação de felicitar todos os pais que conseguiram combater as saudades dos seus filhos ao longo da semana, ajudando-nos a realizar o nosso trabalho não só a nível do ensinamento da modalidade, mas também de os fazer crescer enquanto pessoas. Foi uma semana fantástica e penso que todos os atletas saíram de Paredes de Coura com o coração mais cheio, tal como todos os monitores e com uma vontade enorme de voltar a repetir a experiência”.

Neste último jamboree a Margarida tudo fez para que alguns jovens do seu grupo não abandonassem o evento. E tudo o que fez, pelo que pude observar foi bem feito, só que há pais que não nos ajudam em nada a que os seus filhos cresçam. Poderia contar aqui muitas histórias, algumas em que os pais subtilmente “pressionam” os seus filhos a voltar para casa. Como sempre digo o jamboree não é prisão está lá quem quer, mas muitos outros gostariam de estar lá e não podem, porque essa vaga foi ocupada pelos que depois desistem. Não responsabilizar as crianças pelos seus actos, e deixar que eles desistam à menor dificuldade, não me parece um bom caminho, na sua formação. Nunca vi um jovem que ficasse até ao fim do jamboree a arrepender-se de tal facto, mas já vi muitos a arrependerem-se de ter desistido.

Contudo o que mais me aflige, são histórias como algumas que já pude presenciar em que aos 11, 12 anos, porque o menino ou menina são super protegidos, não vão para lado nenhum, sem ser acompanhados pelos pais e se querem desistir os pais aceitam logo esse desejo, e o mesmo menino ou menina, dois ou três anos depois aos 14, 15 anos, porque também o “exige” sai com os amigos e fica até às tantas da matina na noite.

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, são comportamentos que tenho alguma dificuldade em compreender. No entanto há uma coisa que não tenho dúvida, uma das obrigações dos pais é criarem com peso conta e medida os seus filhos para serem autónomos.

 

Comentários 

 
+5 #1 Humberto Gomes 22-07-2014 21:18
Meu caro San Payo,

É sempre bom focar a atenção nos teus escritos, que invariavelmente apelam a uma serena e atenta reflexão, como este, em particular.
"Alinhando" pela tua certeza, certezinha do teu último parágrafo, sugere-me o mesmo recordar este ditado popular que, na sua infinita sabedoria, nos lega : "Consultar quem sabe, jé é saber metade.".
Aquele abraço.
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