A culpa e as generalizações

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altRaramente entro em polémicas em cima dos acontecimentos, mas estas, a não ser que sejam completamente descabidas, não me passam ao lado. Não gosto de pessoalizar os casos nem manifestar-me, a não ser que expressamente me peçam a minha opinião, quando a discussão está ao rubro.

Prefiro que a poeira assente e depois se assim o entender manifestar-me. Como disse o Rui Gomes num bom post, que atentamente li no facebook, seria mais fácil não escrever.

Foi um desabafo do amigo João Ribeiro, também no facebook, que me alertou para uma notícia dum jornal, em que os treinadores da formação eram considerados os responsáveis pelos maus resultados da actual selecção nacional de seniores. Não quero aqui particularizar este caso, mais uma vez o que me move são compreendermos razões de fundo, comportamentos e formas de estar na vida.

Quando as coisas não correm bem, há de um modo geral uma necessidade, de encontrar bodes expiatórios, e na maioria das vezes não vamos às questões de fundo. Outro fenómeno que se verifica nestas ocasiões é o surgimento dos arautos da desgraça, que em muitos casos, se manifestam meramente por questões pessoais.

Um dos grandes problemas destes desabafos são as generalizações. Neste caso concreto convém não esquecer que a actual geração, que representa a selecção nacional ou passou ou poderia ter passado pelos centros de treino, o que, numa perspectiva de generalização, permitiria aos treinadores da formação dizer, que a culpa seria dos centros de treino.

Em 1997 também eu fui visado pelas generalizações, quando um jogador por mim treinado estava a ser observado para eventualmente ser integrado nos trabalhos da selecção do mundial de Juniores de 99. Mais coisa menos coisa o que foi na altura publicamente dito foi o seguinte: - O que é que andavam a fazer os treinadores da formação pois o nível dos jogadores que estamos a observar é muito fraco.

Ninguém me perguntou há quanto tempo é que aquele jovem jogava, que condições eu tinha para o treinar. Posso dizer que esse jovem tinha surgido no clube em que eu estava na época anterior ao momento de observação. Posso dizer que para conseguir minimamente integrá-lo nos trabalhos da equipa que estava a treinar, chegava todos os treinos vinte minutos mais cedo para fazer trabalho individual com esse jovem e após o treino ficava mais 15 minutos a trabalhar com ele. Posso dizer que nesse ano embora fossem Sub-16, treinávamos das 21.00 às 23.00. Posso-vos dizer que se quisesse treinar no campo principal tínhamos que treinar ao Sábado do meio-dia e meia às duas da tarde, o que aconteceu sempre que não tínhamos jogos ao Sábado. E cereja no topo do bolo, posso dizer que nessa época por dificuldades financeiras o clube deixou de pagar aos treinadores de formação, mas nem assim deixei de dar treinos. Não digo que todos os treinadores são bons, mas culpabilizar os treinadores de formação duma forma generalizada, sem saber o passado dos seus jogadores, sem saber em que condições trabalham não me parece no mínimo muito sensato.