Competitivos para melhorar

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João RibeiroParece-me importante iniciar o meu contributo desta semana enaltecendo o esforço que a Federação Portuguesa de Basquetebol, nomeadamente a sua equipa técnica nacional,

tem feito no sentido de procurar desenvolver mecanismos para que existam mais momentos para observar um leque alargado de jogadores que, em início de “carreira”, apresentem indicadores que possam apontar para virem a ser jogadores aptos para entrar no alto rendimento. A definição daquilo que é um jovem talento não é uma discussão pacífica, mas se enquanto treinadores pudermos estar (fora dos momentos em que dirigimos equipas) nas ações onde se observam potenciais jogadores de futuro, podemos aumentar a nossa capacidade de contribuirmos para a procura, captação e desenvolvimento de jovens que, talvez um dia venham a ser jogadores de Basquetebol ao mais alto nível possível. Adquirindo um conceito mais verdadeiro daquilo que é um talento e do que significa potencial.

A seleção de jogadores com potencial para a prática do Basquetebol, no meu entender, vai para além da sua capacidade para marcar cestos no presente, ou para além da sua capacidade atlética, antropométrica do presente. Prever o futuro é difícil, prematuro e, provavelmente o foco menos importante de um treinador que ensina os primeiros passos. Observar como o atleta fortalece ou enfraquece a sua motivação para ser melhor e dar o seu melhor, parece-me ser a base para que, com avanços e recuos, com rendimento e insucessos, se evidenciem características que poderão direcionar-se para o talento.

Observar, despreocupadamente, jogadores que entram num conjunto maior de atletas de interesse nacional estimula o espírito competitivo saudável, que no meu entender, está muito acima de discussões sobre se deverá estar nesse grupo o atleta A ou B (controvérsia sempre levantada por quem eventualmente não vivenciou a experiência de ter de tomar decisões e fazer escolhas para além dos seus interesses pessoais ou de clube). Na maioria das vezes entrarmos em discussões dessa natureza poderá indiciar que o nosso ego se está a desviar para uma conduta que não faz parte dos atributos de um treinador de jovens. Observar atletas com potencial deverá ser um desafio para não descurarmos a nossa verdadeira missão – trabalhar para podermos potenciar e desenvolver melhores atletas seniores.

Deste modo, deveremos ter sempre presente o que tem um atleta de saber fazer para poder confrontar-se com um jogo de grande intensidade. Jogo este onde o 1x1 permanente, a defesa o ressalto e o contra ataque conduzem à necessidade de apetrechar os nossos atletas com “ferramentas” técnico táticas suficientes para manter, conter ou ganhar vantagem sobre os adversários com que se deparam. Este desafio é tão difícil quanto a heterogeneidade dos atletas que jogam em equipas de sub 14 (e até sub 16). Pelo que parece termos de nos centrar em aspetos individuais do atleta (capacidades físicas coordenativas e condicionais, desenvolvimento da técnica individual, atitude perante o treino, o aperfeiçoamento, a frustração o erro) de forma a diminuirmos a heterogeneidade do grupo com quem trabalhamos.

Da mesma maneira, quando temos o privilégio de observar um grupo com uma representatividade grande de atletas capazes de jogar a nível superior, despertamos para aspetos que os distingam e que possam ser mais-valias para temperar o talento que revelem em jogo: atenção e concentração em jogo e nos momentos de instrução do treinador; capacidade para absorver correções mais duras; subtileza evidenciada para perceber a mensagem dos treinadores e modificar comportamentos, lidar com a frustração de perder um ressalto, ser batido em drible ou sofrer um cesto do seu adversário direto; como decide em situações novas; persistência; competitividade; capacidade de suportar a dor física. Estes poderão ser alguns dos aspetos que intitulados de Comportamentos, estarão estado na base do trabalho feito pelos nossos vizinhos espanhóis em Collel e que me parece estar a ser iniciado pela equipa técnica nacional.

De todo este valioso trabalho e levantamento será certamente possível, à Equipa Técnica Nacional, traçar um perfil do jogador de formação do nosso País (que não só os de zonas mais representativas da nossa modalidade) contribuindo este perfil para traçar as linhas gerais de intervenção de todos os treinadores que se dedicam às etapas iniciais de aprendizagem. Se a riqueza deste conteúdo chegar a todos os treinadores e se os mesmos possuírem ou despertarem para uma consciência coletiva de formação, ficará muito pouco tempo para nos dedicarmos a outras reflexões que não sejam as que conduzam a melhores ambientes formativos para desenvolvermos as capacidades de todos os atletas que estão sob a nossa responsabilidade. E se a nossa mente possibilitar uma abertura ainda maior, ainda conseguiremos dar contributos úteis para que o ambiente competitivo e de aprendizagem do jogo seja o melhor para os nossos atletas e para os nossos adversários, é nessa altura que todos saem a ganhar independentemente de serem de interesse nacional ou não.

Se pensarmos em tudo o que podemos fazer para melhorar os nossos atletas, não nos resta certamente tempo nenhum para pensarmos ou julgarmos aquilo que outros não fizeram ou deveriam ter feito. Se 99,9% dos treinadores de jovens não são profissionais no exercício das suas funções certamente que todos os contributos críticos terão obrigatoriamente de vir alicerçados coerentemente no exemplo e na conduta de quem propõe e de quem critica. Se pensarmos que todas as iniciativas de observação de atletas conduzem a um processo de seleção de uns em detrimento de outros, também deveremos pensar que em muitas situações aqueles que não são aparentemente identificados como talentos poderão despertar para essa via a qualquer momento, desde que, claramente os treinadores que os acompanham não se desviem do caminho formativo para outro em que a prioridade seja exclusivamente a de recorrer aos resultados desportivos como forma de justificar as suas escolhas.

Terminaria dizendo que, enquanto treinador de formação, estou convicto de que, quando desempenhamos funções formativas, temos o dever de complementar o nosso trabalho com a presença assídua em ações de formação contínua para treinadores. Nesses momentos enriquecemos a nossa visão do processo formativo de crianças e jovens. Nesses momentos confrontamo-nos com orgulho de não estarmos desviados do que melhor se faz e a humildade de estarmos sempre a aprender outros pontos de vista que fortaleçam a nossa filosofia de treinadores que preparam o futuro ganhando o Amanhã.

 

 
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