Não quero jogar mais

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altConstruir uma carreira no basquetebol é o resultado de vários fatores, um deles e talvez um dos principais, o facto do jovem atleta olhar para cima e ver que existem degraus suficientemente sólidos para poder subir.

Ter estado em contacto com 4 países, a trabalhar nesta modalidade, (Portugal/Estados Unidos/Espanha/Itália) fez-me perceber a maneira como as diferentes estruturas são construídas.

Para um jovem atleta, a ambição é sempre a maior possível: jogar como profissional no seu país, jogar como profissional noutro país ou jogar na seleção nacional. O certo é que em Portugal esse sonho, o de ser profissional, tem vindo a morrer (ou tem vindo a ser morto), com o passar dos anos.

Na generalidade, um jovem, em Portugal, deixa de ter ambições em fazer do basquetebol carreira, aliás, arrisco a dizer que um jovem em Portugal, após os sub17, olha para o basquetebol apenas como uma parte descartável do seu plano de vida e não como uma prioridade. Com o passar dos anos, através dos diferentes eventos MVP que organizo, percebo que os jovens com mais de 16/17 anos cada vez menos tem interesse em melhorar o seu jogo, em apostar na sua formação individual, pois, para essa idade, existem atrações maiores do que o basquetebol.

Sendo assim, o basquetebol em Portugal “pára” no escalão de sub16, sendo coincidente com o último ano das festas do basquetebol, que no panorama nacional, é a grande aposta das instituições que gerem o nosso basquetebol, relegando tudo o que está acima das idades do evento de Albufeira, para segundo plano.

Olhando novamente para inquéritos que realizamos nos diferentes eventos MVP, cada vez mais, quando se pergunta a cerca das ambições do atleta na modalidade, uma percentagem grande das respostas são participar nas Festas do Basquetebol ou ser campeão regional. Feita a pergunta seguinte relativamente ao futuro após o escalão de sub16, mais uma vez uma grande percentagem afirma que jogará até ir para a universidade, deixando o basquetebol, provavelmente, após entrar na mesma.

A meu ver, seria muito interessante que a Federação Portuguesa de Basquetebol conduzisse um estudo para se apurar, após o ultimo ano de participação nas Festas do Basquetebol, que jogadores num espaço de 4 anos continuam ligados à modalidade, em que funções e a que nível. Arriscaria a dizer: muito poucos.

Em conversa com outras pessoas do basquetebol em Portugal, concluo que até às idades das festas, para o panorama português, está desajustado. A meu ver, as festas deveriam ser para os escalões de sub13 e sub15, sendo que naturalmente os atletas sub14 e sub16 já têm o seu espaço nos seus clubes. O que faria esta alteração? Faria com que os atletas sub13 e sub15 tivessem a motivação das festas do basquetebol, sendo que no ano seguinte teriam o seu espaço na sua equipa, ou seja, faria com que 1 atleta durante 4 anos tivesse constantemente focado.

Estando a trabalhar fora do país e já tendo estado em vários contextos, dentro e fora, vejo que o problema vai muito para além do basquetebol. O problema começa logo pelos horários escolares, pela falta de cultura desportiva, pela falta de políticas que se traduzam no desenvolvimento da actividade física/desporto em todo o país (não podendo este ser desenvolvido só na zona litoral), pela falta de formação dos agentes desportivos, entre outros.

O que fazer no topo da pirâmide? Claramente fazer do basquetebol um produto atrativo, como negócio. Fechar as ligas masculinas e femininas, restringindo-as a um grupo de equipas que, com orçamentos reais, pudessem dar aos seus agentes (jogadores, treinadores, fisioterapeutas, árbitros, etc) os contratos de trabalho e a segurança de uma estrutura profissional. Fazer as ligas fechadas sem descidas e subidas e com um sistema de licenças como acontece com a Euroliga, sendo que só seriam admitidas novas equipas mediante condições reais de estrutura, e não ter, todos os anos, esta falta de verdade desportiva de equipas que descem e depois ficam na ligas de topo, equipas que descem num mês para a ultima divisão e passado outro mês estão na liga. Para o patrocinador, para quem quer apostar na modalidade, este tipo de práticas fazem com que se opte por não apostar no basquetebol.

Em 10 anos, o basquetebol deixou de ser um dos alvos das grandes marcas portuguesas e internacionais.

No fim, quem sofre afinal com estas e outras oscilações? O jovem jogador, que olha para cima e cada vez mais chega a uma determinada idade e diz “Pai/Mãe não quero jogar mais”.

Nuno Tavares
+39 347 339 8969
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