Prática informal desportiva

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playgroundO desporto/actividade física é um fenómeno com grande relevância social.

Bem estruturado por todas a entidades competentes, tem um impacto marcante construção de um adolescente (quer física que motora).

Espanha é um pais reconhecido pelos resultados desportivos a todos os níveis, sejam eles em desportos colectivos sejam individuais, na formação ou na alta competição.

Este processo não aparece de um dia para o outro, não existe uma formula mágica e muito menos não se pode querer ou exigir resultados imediatos sem que existe uma base bem organizada, estruturada e com o intuído de construir resultados (e os resultados não tem que ser vitorias e derrotas, o desporto de iniciação é bem mais valioso que isso) de baixo para cima, ou seja, dando todas as condições para que a formação possa trabalhar e evoluir, condições estas para todos os intervenientes ou seja, jogadores, treinadores, dirigentes, árbitros/oficiais de mesa, fisioterapeutas, pais, entre outros.

Mas a evolução do atleta também se dá fora do âmbito da escola, do clube ou de outro qualquer entidade que organiza a prática desportivo, aliás, tão importante (e para não dizer mais importante em alguns dos casos) é a prática informal, prática esta que traz muitos beneficio ao desenvolvimento do jovem atleta. Depois de estar a residir à um mês em Madrid, senti o mesmo de quando vivi e trabalhei como treinador nos Estados Unidos, e a razão prende-se com o titulo deste artigo, a importância da prática informal e o seu impacto na sociedade.

Madrid é uma cidade com uma quantidade enorme de espaços verdes, espaços estes construídos e organizados para uso da população. Em um mês posso dizer que já visitei praticamente todos estes locais desde o Parque do Retiro ao Parque de Roma, Parque de Calero ao Parque del Oeste, da marginal do rio Manzanares ao Parque Cerro Almodôvar e é neste ultimo que me quero centrar mas referindo que o que irei descrever neste parque encontra-se em mais de uma dezena de parques espalhados pela cidade.

Os Parques de Cerro Almodôvar e de La Cuña Verde de Latina (refiro os dois pois estão colados um ao outro) encontram-se perto da zona de Vista Alegre e serve para eu dar as minhas corridas informais praticamente todos os finais de tarde e ,serve também, para constatar a importância que é dada ao desporto neste pais. Alem dos inúmeros espaços verdes, com relvados bem tratados onde grupos de pessoas, de todas as idades, passeiam os seus cães e/ou sentam-se para conversar no final de cada dia, encontra-se equipado com o seguinte:

Todos estes equipamentos (com a excepção do centro desportivo) encontram-se ao serviço do publico 24 horas, totalmente abertos e em perfeitas condições em termos de piso, balizas, cestos e redes de volei.

Muitas das minhas corridas por vezes são interrompidas comigo agarrado às redes dos diversos campos de basquetebol que referi, vendo jogos de 2x2, 3x3 ou até 5x5, entre jovens de todas as idades e géneros, desde os 8 aos 18 anos, vestindo as camisas dos seus ídolos e praticando a modalidade sem a restrição  que o clube por vezes impõe, que é tão importante como o basquetebol informal, mas que limita a liberdade que estes jovens vêem na televisão e/ou nos pavilhões e que vão para estes espaços aprender por eles próprios e mais importante que tudo, aprender a errar, algo que a sociedade tem vindo a retirar aos poucos, o espaço para que os adolescentes tem para errar, porque é extremamente importante na sua formação viverem com o erro de modo a que possam ultrapassar barreiras e atingir novos patamares.

Em Portugal a prática informal desportiva tem vindo a desaparecer do quotidiano da vida dos adolescentes.  Pode-se enumerar diversas razões pelo qual este facto se tornou uma realidade no nosso pais mas este não é o tempo ou o espaço para o fazer, no entanto irei referir aquela que está ligada com a minha experiência nesta cidade e é o sentido de comunidade que se perdeu, e que em Espanha tem uma força incrível, a força do bairro, do sair à rua, da convivência com o próximo pois em Madrid também existem certamente muitos perigos, os adolescente também possuem consolas, computadores e navegam nas redes sociais, frequentam a escola e os clubes mas isso não faz com que não existe espaço para a prática informal.

Nunca fui um grande jogador de basquetebol, mas recordo com muita saudade as horas e horas que passei no “playground” junto de casa da minha mãe jogando com amigos e desconhecidos, aprendendo a errar, aprendendo a explorar o jogo, a discutir as regras, no fundo, a crescer como pessoa e jogador e penso que esta prática informal faz falta a um pais que tem todas as condições para ser tão bom como Espanha (dentro da sua realidade mas que já provou com medalhas olímpicas, resultados no futebol, atletismo, hóquei, e em muitas outras modalidades).

O basquetebol precisa de ser mais organizado com os mecanismos que possui, embora o dinheiro seja sempre um factor importante, existem condições neste momento para começar um trabalho de base para que os resultados apareçam daqui a 10 anos. O nosso pais está de longe melhor equipado agora do que à 20 anos atrás, existem mais pavilhões com condições para a prática da modalidade, mas em sentido contrario, os clubes de bairro, que davam a força que vos falava atrás, foram desaparecendo, só em Lisboa extinguiram-se mais de 20, e o jogar na rua, o brincar em frente à casa desapareceu muito por culpa do mau investimento feito e de politicas erradas que foram esquecendo o conceito de comunidade.

Temos que reestruturar os modelos e centrar as atenções só num aspecto, a construção correcta do jovem atleta dentro e fora do campo, e tudo o resto cresce naturalmente à sua volta, os treinadores, os árbitros, dirigentes e todos os intervenientes.

Os espanhóis já perceberam à muito tempo, não os temos que os imitar mas devemos olhar para eles, pedir ajuda, tentar perceber e seguir o nosso próprio caminho.

 

Comentários 

 
0 #2 Henrique Santos 27-10-2011 22:10
De facto concordo totalmente. Na ausência de condições para a prática desportiva informal reside uma das limitações à evoluição da capacidade dos jogadores e, evidentemente, no desenvolvimento dos nossos jovens. Nas cidades do norte, que conheço melhor, ainda vai havendo alguma coisa para as crianças, tipo parque-infantis. Mas para jovens é uma quase total desolação, a começar na ausência de tabelas e campos de ´básquete para a prática livre.
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+9 #1 San Payo Araújo 05-10-2011 14:16
Caro Nuno

É com muita atenção que eu tenho lido e vou continuar a ler os teus pertinentes artigos. A partilha das vivências e experiências é um contributo decisivo para uma profunda reflexão do que fazemos e pretendemos fazer. Também na minha vivência do basquetebol a prática informal foi decisiva.

Um abraço

San Payo
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