Apenas só um sonho?

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Helena CarapinhaAlheada dos sites basquetebolísticos não sabia da iniciativa do Planeta Basket no sentido de se melhor comemorar os 50 anos de minibásquete em Portugal.

Fiquei a saber pela boca do seu maior impulsionador hoje, San Payo, que convidava precisamente um colega nosso a efectuar um depoimento sobre a efeméride. Na despedida minha, já do outro lado da rua, San Payo ainda me desafiou, “se quiseres também podes escrever”, ao qual prontamente respondi, “eu não que não joguei minibásquete”. Assim ficámos, mas no caminho para casa pensei que mesmo não tendo iniciado o basket na idade do mini, talvez pudesse escrever algo, que me e a nós, fizesse sentir o minibásquete.

Quando iniciei a prática o basquetebol era em mim apenas um jogo e não um desporto ainda. Recordo os treinos, talvez três semanais, aos olhos de hoje num campo bem curto, feito de alcatrão esburacado, bolas de borracha e à luz de três ou quatro candeeiros, já não sei precisar. Foi naquele campo de uma escola, ou num polivalente de estudantes e professores de um antigo liceu, quando a chuva não nos deixava alternativa, com o garrafão desenhado a giz, que treinei e aprendi o jogo e talvez até o basquetebol-desporto. Independente da minha idade e do local de prática, era a alegria de ter a bola, sempre foi assim. Ter a bola e jogar, ter a bola e competir. Acredito que nas idades do mini seja esta a alegria e vontade primeira de jogar e competir que as crianças mostram a quem as recebe e orienta. Escrevo bem, orienta, esta intervenção pedagógica deve ajudar as crianças a descobrirem o jogo, as suas mágicas (palavra de Teotónio Lima) e assim estabelecer um continum entre o jogo e a imaginação de cada uma delas. Agradeço a quem me treinou primeiro e me proporcionou treinos e competições motivantes porque abertos à minha imaginação e iniciativa individual. Senti-me satisfeita, recompensada, alegre tantas e tantas vezes. Lembro-me desinibida e espontânea, verdadeira e sincera.

Por isso quem orienta perceberá que as situações proporcionadas estão a par e em harmonia com o desenvolvimento psicofisiológico das crianças. Daí tão importantes igualmente os afectos, a criação de amizades e grupos de relacionamento, onde se cimentam os valores éticos e de comportamento, que parecem escapar nos dias de hoje. Nunca fui a um jamboree em atleta, penso que não existiam, e nunca os presenciei em adulta, mas imagino-me num, desconfiando que naqueles a quem a aquela “sorte” cai às mãos, não haverá melhor do que sair de casa dos pais, ir com amigos e conhecer outros, e outros sítios onde nunca se esteve, onde as rotinas de deitar, comer, brincar são alteradas, onde posso cantar, gritar, conversar até mais não, jogar e jogar, e sentir-me melhorar e capaz. Imagino-me a voltar cansada, com sono, a adormecer depois de tanto cantar no autocarro, mas ao acordar sentir-me feliz. Amanhã a vida continua, volta o quotidiano tantas vezes enfastiante, mas no meu ser ficou guardada uma memória valiosa para toda uma vida.

Terá o meu devaneio e arrojo de escrever sobre o que não passei coincidido um pouco que seja com uma realidade, ou nem devaneio se tratou e apenas só um sonho? Posso acreditar que também é assim o nosso minibásquete?

 

 
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