Por detrás da ação

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altCada vez mais o jogo evolui ao mesmo tempo que os processos de treino, as qualidades físicas e toda a envolvência à volta evolui, logo, encontrar soluções táticas diferentes é essencial.

Com o passar dos meses dou por mim a estudar o jogo em situações que nunca o pensei fazer, penso que isso deve-se à intensa exposição que sou confrontado aqui, que me dá duas alternativas: não acompanho o ritmo e a intensidade, ficando cada vez mais “perdido”, ou todos os dias sou “obrigado” a dedicar horas a estudar o jogo de modo a tentar estar sempre o mais preparado possível.

Sendo assim, um dos conceitos que tenho andado a estudar com mais atenção é a “Ação por detrás da ação principal” ou seja, tal como num jogo de snooker, quando jogamos diretamente a uma bola estamos sempre a pensar onde colocar a bola branca na próxima jogada, embora estejamos a centrar a nossa ação no objetivo imediato à nossa frente, estamos também a pensar numa segunda ação (onde é que a bola branca irá ficar melhor colocada para a próxima tacada).

O conceito é o mesmo, mas com uma pequena diferença, é que aqui, a nossa ação principal é apenas um “disfarce” para o nosso principal objetivo que é a ação que está a decorrer por detrás daquela que a bola está envolvida.

O exemplo que irei dar a seguir tem como objetivo colocar a bola no jogador 5 numa posição o mais próxima do cesto, iremos então “disfarçar” este objetivo com uma primeira ação e a meio desta primeira ação começamos a trabalhar a o nosso verdadeiro objetivo, ou seja, aplicando o conceito “ a ação por de trás da ação”.

Irei usar alguns diagramas para exemplificar o conceito:

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A B

Diagrama A – Usando uma formação clássica ofensiva 3-2 com 1 base, 2 extremos e dois jogadores interiores no poste baixo, com a bola no jogador 1.

Diagrama B – Passe do jogador 1 para o jogador 2 com as tradicionais movimentações defensivas, ou seja, defesa 2 fecha a penetração pelo meio, defesa 3 e 5  entram em posição de ajuda e defesa 4 sobre marca a ¾ o jogador 4.

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C D

Diagrama C – Pretendemos fazer querer à defesa que desejamos uma ação de bloqueio direto entre o jogador 2 e 4, com uma penetração do jogador 2 com bola em direção à área restritiva.

Diagrama D – É neste momento que começamos a entrar no nosso principal objetivo. Assim que o jogador 2 usa o bloqueio direto e passe a bola ao jogador 1 (o defesa do jogador 1 irá entrar em ajuda na penetração do 2), o jogador 5 irá fazer um corte rápido e agressivo para o meio do garrafão como se desejasse receber a bola, o que não irá acontecer pois o defesa 5 irá impedir esse mesmo corte e defende-lo a ¾ para este não receber a bola, o que é exactamente o que nós desejamos.

Devemos então fazer dois passes rápidos enquanto esta ação do jogador 5 decorrer, ou seja, passe do jogador 2 para o 1 e do 1 para o jogador 3.

Importante também o desfazer do jogador 4 para uma posição mais aberta perto da linha de 3 pontos de modo a levar o seu defesa consigo.

alt Diagrama E – Após a rotação da bola iremos encontrar o jogador 5 numa posição ótima para receber a mesma, posição essa que no diagrama D não era boa mas com uma rotação de bola tornou-se excelente. Queremos sempre colocar o nosso melhor jogador interior nesta movimentação do lado contrário da primeira ação e quando o corte ocorrer, este deverá selar o seu defesa e ser muito agressivo na receção da bola.
E

Este tipo de conceito permite que possamos ter uma série de ações a decorrer por trás da ação principal que é onde a bola está. O que mais me fascina neste tipo de movimentações é a capacidade dos jogadores trabalharem sem bola, algo que muitas vezes infelizmente não acontece. Estar constantemente estudando o jogo, várias maneiras de explorar o ataque e a defesa, de tornar os jogadores melhores dentro e fora do campo, de fazer com que estes possam pensar o jogo por eles através da ocupação correta do espaço e de leituras constantes é um dos meus grandes objetivos e preocupações quando inserido numa equipa.

Ser treinador é muito mais do que andar pelo campo com um apito ao pescoço, é algo complexo que transcende o jogo em si. Acima de tudo devemos treinar pessoas primeiro e jogadores depois.

Eu Vejo-te...
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Comentários 

 
+1 #1 Humberto Gomes 02-04-2013 18:10
Boas, meu caro Nuno.Feliz coincidência encontrar este artigo, depois de ter dado umas "voltas" à procura do MVP Campos. Antes de rumar à "aventura"(feliz !!!) dos EUA o Nuno trocou algumas impressões comigo sobre o seu projecto : apetecível, ambicioso e desafiante ! Confesso que, envolvido noutras frentes, não dediquei a atenção que o mesmo merecia e justificava (as minhas sinceras desculpas). Reconheço hoje, com um sentimento de alegria, que, "step by step", o horizonte está desanuviado, a humildade está presente e o que me parece mais importante é que, já alguém o dizia, "a relação cognitiva com a realidade conduz à inovação".Acompanhei o Nuno nos primeiros passos de treinador (não era, não, um candidato... antes de ser já o era !). Tem sido espantoso o trajecto. Parabens, Nuno. Precisamos muito de quem VEJA E CONHEÇA O JOGO, lá está, INOVANDO.Aquele abraço. HumbGomes.
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