Mudar o processo de aprendizagem

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Mudar o processo de aprendizagemA primeira vez que vi o António Carrillo em Queluz, já lá vão dez anos, fiquei encantado com as suas propostas de ensino do minibásquete. Desde então inúmeras foram as vezes que contactei com o Carrillo.

Com as suas formas de ensinar, muito focadas em aspectos cognitivos de aprender o jogo e em formas de cariz lúdico, quando se trata dos escalões mais novos do minis, sempre o Carrillo teve o condão de me trazer sugestões que me enriqueceram. Desde flautista de Hamlin, encantador de crianças, até treinador exigente tudo o Carrillo consegue conciliar na sua visão que do ensino do minibásquete que se pode resumir na noção, com foco nas crianças, o "basquete na sua medida".


1. Comecemos por uma pergunta difícil, que impacto está a pandemia a ter no basquetebol em Espanha e como está prevista a retoma nos escalões de formação?
O impacto da pandemia foi algo invulgar e terrível porque interrompeu repentinamente todas as competições e treinos. É uma incógnita, porque ainda não sabemos qual será a sua evolução. De fato, ainda não sabemos qual a sua evolução nomeadamente em Espanha e em Portugal. O retorno à normalidade em geral e ao da actividade desportiva em particular continua muito incerto.

2. Que opinião tens sobre o basquetebol português?
Não tenho conhecimento para sustentar uma opinião consistente que se aproxime da realidade do vosso basquetebol. Eu conheço apenas uma pequena parte, mas não conheço o todo. Contudo em qualquer lugar, em qualquer situação ou actividade é necessário ter um objetivo claro, elaborar um projecto a curto, longo e médio prazo, avaliá-lo periodicamente para ajustá-lo o melhor possível; isto é, progredir ou reavaliar e, acima de tudo, colocá-lo nas mãos de pessoas qualificadas e responsáveis. E falta mais um pormenor apoiar as decisões tomadas.

3. Agora entremos no foco principal desta entrevista, para ti qual é a importância do minibásquete? Ou dito de outra maneira o que é que é mais importante no minibásquete?
O Minibásquete é onde tudo começa. O mais importante é fornecer à criança uma boa formação de base, (esquemas motores básicos e gerais): ( correr, sprintar, mudar de direcções, saltar, parar, com oposição de um adversário, ganhar um espaço, proteger uma zona…) que possibilitem a aprendizagem das habilidades específicas, no nosso caso, do basquetebol ou seja (lançar, driblar com ambas as mãos, passar com ambas as mãos, parar a um e a dois tempos independentemente do pé, a utilização do passo 0 para obter vantagens nas recepções, porque há um “transfer” do que foi realizado anteriormente.

4. O que é para ti um bom treinador de minibásquete?
Esta pergunta é muito fácil de responder e muito difícil de aplicar: Quem consegue manter o intacto o sonho duma menina ou dum menino durante toda a fase do minibasquete; ou seja, dos 6 a 12 anos, para que deseje continuar nos Sub-14.

5. Quais são as diferenças entre um treinador de basquetebol de seniores e um treinador de minibásquete.
Basicamente, um compete e o outro ensina e prepara para as crianças para competir, porque nosso desporto é competitivo. Se você vai ganhar, você pode perder. Se queres ganhar podes perder. Se estás a aprender, aprenderás com a vitória e com a derrota e com as reflexões sobre as vitórias e derrotas.

6. Sem competição não há formação, mas para ti quais devem ser os objectivos numa competição de minibásquete?
A competição deve ser organizada de acordo com a medida evolutiva (física de cognitiva) das crianças, para permitir que participem na (tentativa-sucesso-erro) e regressem à prática e não apenas para participar, porque senão ficarão aborrecidos e abandonarão.

7. Quais são as competições que a nível nacional a FEB organiza para o minibásquete?
A nível nacional, a FEB só organiza o Campeonato de Minibásquete de Espanha para selecções masculinas e femininas das federações autonómicas dividido em dois grupos: O especial e o preferencial. Nesta competição há subidas e descidas de divisão que se reflectem no campeonato do ano seguinte.

8. Há em Espanha uma uniformização das regras ou cada Federação autonómica tem as suas regras próprias de minibásquete? Um clube pode organizar um torneio com as suas regras?
Existem diferenças regulamentares entre as federações autonómicas. A unificação apenas ocorre durante o campeonato espanhol organizado pela FEB. É evidente que cada clube que organiza um torneio, tem o direito de dizer como se joga. Os outros clubes, ou aceitam participar, ou delicadamente rejeitam o convite, ou inclusivamente podem sugerir alterações às regras que valorizem a organização do torneio.

9. No minibasquete qual é a tua filosofia de ensino?
"O treinador não ensinou até que o jogador tenha aprendido", disse John Wooden. Se partes do teu basquetebol, dos teus desejos e interesses, do teu sonho, da tua paixão, as crianças não aderirão à modalidade. Se partes do basquetebol das crianças, do que as aproxima do nosso desporto, terás que te adaptar às crianças e ao seu nível de jogo. Esse conceito muda todo o processo de ensino e aprendizagem, porque o protagonista é o jogador e o treinador, uma ferramenta que o ajuda.

10. Termino a entrevista com a uma pergunta que gosto de fazer. Qual é a pergunta que gostarias que te fizessem e que resposta darias?
Para mim gostaria que me perguntassem, qual é o papel do treinador na iniciação e formação no basquetebol? É fundamental. Por quê? Porque cada peça (treinador, criança, clube, pais, competição, regras do jogo, ambiente...) desempenha um papel fundamental no equilíbrio geral desta estrutura e aqui o papel do treinador é essencial.

 

 
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