André Martins e Jorge Fernandes em "dupla" entrevista

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altUma nova dupla está a comandar desde há alguns anos o basquetebol em Queluz. Andre Martins e o seu adjunto Jorge Fernandes trabalham dia após dia para o sucesso da sua equipa.

Qual é a mística desta dupla? Pensam o jogo de maneira semelhante, têm ideias próprias e conseguem unificá-las trabalhando em equipa. Foi daí que surgiu a ideia desta “dupla” entrevista.

O Queluz é a única equipa entre LPB e Proliga a jogar sem estrangeiros e apesar disso segue nos primeiros lugares. Qual é o segredo?
 
André: O segredo esta no trabalho dos jogadores. Quando se trabalha todos os dias com ambição e superação, em desporto todo é possível. Costumo dizer aos jogadores que eles ainda não descobriram todo o que podem “dar”, é sempre possível fazer mais e melhor. Esta mentalidade tem nos ajudado a vencer.
 
Jorge: A nossa equipa não tem estrangeiros no plantel devido a restrições orçamentais. A presença de estrangeiros na minha óptica permitiria uma melhor evolução dos nossos jogadores portugueses, bem como, dar uma dimensão ainda maior ao nosso jogo/basquetebol. Não há segredos, os treinadores acreditam nos jogadores e na sua predisposição em aprender e trabalhar sempre mais e melhor. Os jogadores demonstram capacidade de trabalho em treino e nos jogos, interpretam de forma adequada as estratégias previamente planeadas para os jogos, acreditam nos princípios e regras estabelecidas (treinar de forma intensa para jogar intenso –“jogas como treinas”), têm gosto em aprender e fazer bem, revelam capacidade mental e de sacrifício e finalmente o bom ambiente em todo o grupo.
 
Estás de acordo com o número de estrangeiros na LPB e na Proliga? Porquê?
 
André: No quadro actual do nosso Basquetebol, estou de acordo com o número de estrangeiros. No entanto devido as jornadas cruzadas julgo que as duas competições deveriam estar em pé de igualdade (2 ou 3 estrangeiros para ambas as competições).
 
Jorge: Não tenho uma opinião totalmente formada quanto ao número certo de jogadores nos diferentes campeonatos. Esta foi sempre uma questão polémica e muito discutida. A minha certeza é que a presença de bons jogadores estrangeiros são fundamentais para ajudar a crescer o nível do nosso jogo e dos nossos campeonatos. A minha experiência diz-me que a presença de jogadores estrangeiros vindos de realidades superiores, com atitudes e comportamentos profissionais correctos, são fundamentais para a evolução dos nossos jogadores, desde que haja condições de trabalho adequadas. Face ao actual momento do nosso basquetebol, o número de estrangeiros acordado pelos clubes e FPB é adequado.
 
Quais são as qualidades mais importantes que um jovem deve ter, na tua opinião, para se tornar jogador de basquetebol em Portugal?
 
André: Procurar todos os dias ser um pouco melhor, os jogadores que procuram melhorar todos os dias são os que atingem patamares mais elevados. É preciso não esquecer a componente da formação e educação dos atletas, como factor fundamental no desenvolvimento dos jovens praticantes. Muitas vezes um jovem com excelentes qualidades físicas e técnicas mas com uma insuficiente formação individual nunca atinge o nível de jogo que poderia alcançar.
 
Jorge: A primeira e fundamental é querer ser mesmo jogador e gostar de basquetebol. Ser paciente, pois o processo é longo, demorado, com avanços e recuos. Possuir capacidade mental e disposição para trabalhar, espírito de sacrifício, pois vai ter que abdicar de algumas coisas que a sociedade actual proporciona. Tão importante como as anteriores, saber que tudo se conquista, ninguém lhe vai oferecer nada, saber ouvir e nunca cair no facilitismo -Treinar com intensidade e concentrado – treinar individualmente – Ter a noção que o jogo é colectivo e que precisamos dos outros.
 
Qual é a defesa principal que mais gostas mais de usar: HxH ou Zona? Porquê?
 
André: Gosto de todo o tipo de defesas, apenas utilizo mais a defesa HxH porque considero ser a defesa mais agressiva e mais simples de executar.
 
Jorge: A defesa individual é a defesa principal e base de todo o sistema defensivo no meu entendimento. Os jogadores têm que dominar a técnica individual da defesa HxH e os princípios tácticos individuais da defesa. Dominando estes dois pré-requisitos, torna-se mais fácil definir os princípios gerais colectivos da equipa. Esta defesa passa por pressionar o jogador com bola (atacar a bola), diminuir o espaço ofensivo ao ataque, colocar fora de posições os atacantes (entrar nas linhas de passe) e controlar e condicionar o ataque (fintar os atacantes).
 
O que procuras quando defendes todo campo?
 
André: Sempre que possível provocar percas de bola ao adversário. Quando não é possível provocar tournovers, temos os seguintes objectivos: diminuir o tempo de ataque; condicionar a organização ofensiva; obrigar a jogar num ritmo de jogo diferente; controlar o ritmo do jogo em termos defensivos; “obrigar” o adversário ao maior número possível de lançamentos em “crise” de tempo (menos de 8 segundos para lançar ao cesto). Provocar desgaste físico na equipa adversária e/ou num determinado jogador.
 
Jorge: A defesa todo o campo pode ter varias estratégias e algumas são devidas a situações diferenciadas. Podemos querer acelerar o jogo ofensivo adversário, restringir o tempo de ataque organizado, arriscar e tentar recuperar a posse de bola ou simplesmente usá-la como defesa principal de equipa.
 
Faltam 15 segundos para o final do jogo. A tua equipa está a ganhar por um ponto. A posse de bola é da equipa adversária. O que dizes aos teus jogadores: defender ou fazer falta?
 
André: Uma pergunta difícil de responder, mas diria que cada jogo é um jogo, com incidências muito diferentes, logo a decisão pode ser diferente. Por norma digo aos jogadores para fazerem falta, no entanto existem um conjunto de factores que podem levar-me a defender a última posse de bola, como por exemplo, a nossa equipa ainda não ter atingido a 4 falta, Percentagem de lances livres da equipa adversária ou de um determinado jogador, entre outros.
 
Jorge: O princípio geral é ter a última posse de bola, pretendo que seja a minha equipa a decidir o jogo. Mas tal como na vida os momentos são sempre diferentes, é preciso ler o jogo, sentir os meus jogadores e ler o pensamento do adversário e decidir. Acredito que quanto mais alto for o nível dos jogadores e da equipa a solução é fazer falta e ficar com a última posse de bola.
 
Esta equipa do Queluz tem futuro. Quais são as ambições para esta temporada?
 
André: Os objectivos competitivos passam pelo apuramento para os Play-offs, consolidar um grupo de trabalho, numa perspectiva de continuidade desse mesmo grupo em épocas futuras. Enquadrar o trabalho da equipe sénior na lógica do clube, que passa pela aposta em jogadores formados no Clube Atlético de Queluz.
 
Jorge: O Queluz nos últimos anos tem vivido com muita instabilidade, nunca conseguimos ficar com uma base de jogadores de um ano para o outro e só no princípio de Setembro ouve luz verde para avançarmos. Tivemos de formar uma nova equipa, felizmente construímos este grupo, porque alguns preferiram esperar, mesmo tendo convites de outros clubes. Os objectivos são: colectivo - ir aos Play-off – individuais – melhorar o nível de qualidade dos jogadores.
 
Qual destas competições te desperta mais interesse: NBA ou Euroleague? Porquê?
 
André: Euroleague, porque o tipo de jogo nesta competição valoriza mais o trabalho colectivo das equipas.
 
Jorge: Gosto mais do basquetebol europeu e em especial o Espanhol. No entanto pelo que tenho visto a NBA está a ficar diferente e para melhor, a chegada de jogadores europeus e as derrotas em competições internacionais, levou a grandes reflexões e a selecção USA em Pequim foi uma verdadeira equipa.
 
Qual é a posição mais importante no basquetebol – base, extremo ou poste.
 
André: As três. No Basquetebol de alta competição exige-se a todos os jogadores capacidades de decisão e leitura de jogo nas diferentes áreas e posições no campo.
 
Jorge: O ideal passaria por os jogadores saberem jogar nas três posições. Uma equipa sem um base de raiz, fica com o seu jogo mais condicionado e limitado.
 
Os treinadores precisam de ter uma associação forte? Porquê?
 
André: Porque é fundamental a existência de um local, de opinião, de promoção, protecção e de desenvolvimento do treinador. Os treinadores têm de ter uma voz, alguém que assuma as suas preocupações e as suas ambições. Necessitamos de ter um papel interventivo e mobilizador no desenvolvimento da nossa modalidade. Esse espaço já foi e tem que voltar a ser a Associação Nacional de Treinadores.
 
Jorge: Os treinadores portugueses têm uma associação – ANTB -  infelizmente nos últimos anos não foi capaz de dar continuidade a um trabalho de representação dos treinadores, nem tão pouco promover o diálogo entre os seus associados. O basquetebol português precisa de uma associação de treinadores forte, actuante, dinâmica e capaz de interagir com todos os sectores do basquetebol nacional. O papel dos treinadores foi sempre determinante em todos os países de referência no basquetebol mundial. Os treinadores têm que ter um papel determinante e uma voz quer nos clubes, associações e federações.

 

 
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