Diga não ao isolamento afectivo

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Diário de ZlataTive algum pudor em começar este artigo com a famosa frase de Abel Salazar: “O médico que só sabe de medicina nem de medicina sabe.” Agora, que mais do que nunca na minha vida, penso que é importante perspectivarmos o que é verdadeiramente decisivo

e tomarmos consciência, como tantas vezes nos preocupamos com o supérfluo, quero desde já do fundo do meu coração agradecer aos que na linha da frente, (todos os profissionais da saúde), lutam pela salvação dos infectados e os que na retaguarda auxiliam os postos avançados e que garantem a nossa segurança e subsistência. Longa é a lista que vai desde, quem é responsável pela nossa segurança, quem está a produzir os meios de combate ao vírus, quem produz os alimentos, quem distribui os bens essenciais até quem limpa e desinfecta os espaços públicos e recolhe o lixo que fazemos.

Posto esta ressalva, que clarifica qualquer má interpretação das minhas palavras iniciais, explico que me lembrei desta frase de Abel Salazar para dizer que, quem só sabe de basquete nem de basquete sabe. A nossa modalidade terá tanto mais valor quanto mais servir para desenvolver crianças e jovens e unir pessoas. Quando falo em unir pessoas, evidentemente que não estou a falar, em tempos de isolamento social, em nos reunirmos todos. O que eu quero dizer, é que pior que o isolamento social, é o isolamento afectivo e emocional. Esse sim, podemos e devemos combater.

Mais do que nunca, tenho-me lembrado do diário de Anne Frank, e bem mais recente, do diário de Zlata. Este último é do início da década 90 e decorre no período do auge da desintegração da Jugoslávia. Zlata uma menina em idade de jogar minibásquete é obrigada, pela força das circunstâncias, a amadurecer de forma repentina. Há uma passagem do seu diário, que me ficou na memória até aos dias de hoje e que mais do que nunca passou a ter muito significado. Nessa passagem, Zlata afirma que mais difícil do que encarar as privações alimentares e de circulação é suportar a ausência de comunicação com a família e não poder saber das pessoas que lhe eram mais queridas. Nós podemos estar em isolamento social, mas temos todas a condições para não estarmos em isolamento afectivo e emocional. Diga sim ao isolamento social e não ao isolamento afectivo. Certamente que, quando sairmos desta crise saberemos dar mais valor ao que é decisivo e poderemos melhorar a qualidade nas relações sociais. Em vez de nos estarmos a angustiar com a gravidade da situação centre-mo-nos na felicidade de podermos comunicar com os que nos são mais queridos. Nem a Anne Frank, nem a Zlata tiveram essa oportunidade.

 

Comentários 

 
+2 #2 Ana Catarina 26-03-2020 17:14
Muito bom exemplo o da Anne Frank e da Zlata que nem a fome lhes retirou a esperança.
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+2 #1 Ana Catarina 26-03-2020 17:12
O isolamento afectivo quando tudo está bem custa mas pensamos que é por uma boa causa, um bom emprego, um estado social melhor, mas quando se vive uma pandemia custa muito mais.
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