Reflexão antes das férias

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Reflexão antes das fériasSempre que eu pergunto, e já o fiz múltiplas vezes, o que é o mais importante no minibásquete, até agora recebi sempre a mesma resposta: a criança. Mas será que esta unanimidade na resposta tem correspondência nos comportamentos de todos os treinadores de minibásquete?

Quem é que nunca assistiu, e estou a restringir-me ao que já pude observar no universo do minibásquete, a comportamentos que vou passar a enumerar:

1. Quando um treinador não distribui equitativamente o tempo de jogo por todos os seus jogadores, que pelo seu empenho e não pela sua qualidade, o merecem? Está a pensar nas crianças ou no resultado?

2. Quando um treinador diz a uma criança faz falta que as faltas são para ser feitas? Compreende o treinador que a criança ainda não tem o discernimento dum adulto e pode usar essa agressividade de forma incorrecta? Está a pensar nas crianças ou no resultado?

3. Quando um treinador diz a um dos seus jogadores para simular uma lesão para poder colocar o melhor jogador em campo? Que valores está a transmitir? Está a pensar nas crianças ou no resultado?

4. Quando um treinador no minibásquete se socorre de uma estratégia para libertar o seu melhor jogador? Considera que esta é a melhor maneira de formar os seus jogadores? Está a pensar nas crianças ou no resultado?

5. Quando um treinador incita o seu jogador, tentando ludibriar o árbitro, para dizer que a bola fora é sua? Que fair-play, que valores está a ensinar? Está a pensar nas crianças ou no resultado?

6. Quando um treinador diz a um dos seus jogadores para simular uma lesão para poder colocar o melhor jogador em campo? Que valores está a transmitir? Está a pensar nas crianças ou no resultado?

7. Quando um treinador não cumpre os regulamentos técnico-pedagógicos que assumiu cumprir? Que exemplo está a dar sobre o compromisso? O exemplo não é a melhor forma de educação? Está a pensar nas crianças ou no resultado?

8. Quando um treinador centra a sua atenção nos erros da arbitragem, mas apenas nos erros que prejudicam a sua equipa? Está preocupado que a arbitragem ajude na melhoria dos seus praticantes? Está a pensar nas crianças ou resultado?

9. Quando um treinador apenas se manifesta contra os comportamentos acima mencionados quando perde? Está preocupado com valores? Está a pensar nas crianças ou no resultado?

10. Quando um treinador não convoca uma criança, que não faltou a um único treino, mas por ser mais frágil que outros que faltaram sem justificação plausível a vários treinos? Está a pensar nas crianças ou no resultado?

11. Quando um treinador grita e ralha com uma criança, que apesar de ter tentado fazer o seu melhor, por ter cometido um erro que custou a vitória do jogo? Está a pensar nas crianças ou no resultado?

12. Quando um treinador em função da vitória adestra e condiciona com jogadas em vez ensinar a tomar decisões e a jogar? Está a pensar nas crianças ou no resultado?

Não estou a fazer generalizações ao comportamento de todos os treinadores de minibásquete, mas acreditem que as situações acima mencionadas não são ficção? São situações que infelizmente já assisti. E o que é mais grave, quantas vezes a realidade ultrapassa a ficção?

Felizmente, conheço muitos excelentes treinadores de minibásquete.

Face às idades das crianças que praticam minibásquete deve ou não esta actividade ser educativa? Que valores transmitimos, quando em função da vitória demonstramos falta de compromisso, incitamos a mentira, somos injustos e temos comportamentos de honestidade muito duvidosa?

Quantas vezes para não sermos tomados por “tolos”, prescindimos de princípios e vamos atrás destes comportamentos? Não sou nem nunca fui contra a competição. Contudo por formação e educação que os meus pais me transmitiram hei-de ser sempre contra a falta de compromisso, contra a batota, contra os subterfúgios, contra a injustiça. Em resumo contra a competição em que a vitória é de tal maneira importante que vale tudo para a alcançar.

Claro que as crianças pensam no resultado e adoram ganhar, mas terão elas a capacidade de discernir, que nas situações acima mencionadas estão a ser instrumentalizadas em função, não das suas necessidades, mas dos interesses do seu treinador?

PS: Volto em Setembro com mais entrevistas e opiniões de especialistas do desporto infantil. Até lá votos de boas férias para todos.

 

 
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