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Gustavo MatosA Associação de Basquetebol Albicastrense é actualmente, pela sua dinâmica, pelo evento que realiza e pela capacidade se deslocar para todo o país com equipas,

nomeadamente no minibásquete, uma referência a nível nacional. Para compreendermos melhor o projecto deste clube do interior do país quisemos ouvir o que o seu presidente Gustavo Matos nos tem para dizer.


Como habitualmente começamos a nossa entrevista a pedir que nos diga como começou a sua ligação com o basquetebol e qual a sua trajectória na modalidade?
A minha ligação ao basquetebol começou quando os meus pais após uma viagem a Andorra me compraram uma bola de basquetebol de couro da “Adidas”. Tinha 12 anos e estudava no 7º ano do Liceu Nuno Álvares em Castelo Branco e os mais velhos tiravam-me a bola e não me deixavam jogar (era a única bola de couro na cidade). A vontade por aprender e melhorar era constante para jogar com os mais velhos, praticava em todos os intervalos e durante toda a tarde. Na época não havia clube na cidade e apenas havia torneios nas escolas promovidos pelas Associações de Estudantes. Nesse ano fui convidado para fazer parte da Associação de Estudantes – Secção Desportiva para organizar os torneios de basquetebol.

No ano lectivo seguinte apareceu uma equipa federada, o Albi Sport que participou no campeonato distrital, mas por motivos de “secretaria” não passamos a Taça Nacional. O basquetebol federado começou e morreu no mesmo ano. Ao fazer parte da Associação durante 8 anos sempre organizei o torneio anual que iniciava em Setembro e terminava em Junho, sempre com cerca de 20 equipas, era o treinador das equipas masculinas e femininas da escola no Desporto Escolar e organiza intercâmbios desportivos com outras escolas a nível nacional. Participei como atleta no último ano de sub 16 e fomos à fase final da zona centro em Peniche.

Fui convocado para os treinos da selecção nacional, mas devido a questões familiares não pude participar, deixando escapar a oportunidade de uma possível carreira. Passadas 2 épocas fui convidado pelo A.D. Fundão para jogar no Fundão (45 km de distância) em juniores onde participamos na Taça Nacional – Zona Norte (ia de táxi 3 vezes por semana mais o dia dos jogos nos fins-de-semana). No ano seguinte, como não havia seniores no distrito e a vontade de jogar era enorme abri a secção de basquetebol no Desportivo de Castelo Branco, no entanto, apenas conseguimos competimos nos escalões de iniciados, juvenis e juniores, tendo os juvenis sido apurados para a taça nacional.

Apesar das dificuldades que vivemos a ABA tem vindo num crescendo época após época do número de praticantes e deslocações para jogos nomeadamente nos escalões de minibásquete. Qual é o segredo da vitalidade do ABA?
O projecto ABA assenta sobretudo num trabalho de união entre os seus dirigentes e treinadores. Sempre assim foi e pretendemos que assim continue. Tentamos entrar em contacto com os miúdos nas escolas, e inclusive há um elemento que vai às escolas dinamizar um treino no horário lectivo das actividades extra curriculares nas escolas do primeiro ciclo do ensino básico. Para além disso os treinadores de minis desenvolvem a sua actividade profissional em ambiente escolar e captam bastantes atletas, nestas idades, que procuram um desporto diferente e alternativo ao futebol. Por último, tentamos cativar os encarregados de educação a participar e interagir nas actividades em que participamos e organizamos.

Neste momento quantas equipas e praticantes movimenta a ABA?
Na presente época o ABA participou nos campeonatos distritais com equipas de sub 14, 16 e 18 masculinos e sub 19 femininos. Em termos de Minis tivemos os 3 escalões em Castelo Branco e em Alcains (a cerca de 10 km de Castelo Branco). Para a próxima época vai surgir uma nova equipa de sub 14 femininos e as outras equipas mantêm praticamente os mesmos atletas havendo um crescente significativo dos minis 12 que passam a ser sub 14. Actualmente o clube conta com cerca de 130 atletas, sendo 90 minis.

Quantos treinadores asseguram o trabalho do clube e como conseguem financiamento para toda esta dinâmica?
Esta época são 7 treinadores e 2 estagiários, mas optamos por não inscrever todos os treinadores devido ao valor da inscrição na Associação/ Federação Portuguesa. O financiamento é assegurado por verba distribuída aos clubes pela autarquia local e algumas empresa da região que contribuem principalmente aquando da organização de torneios e das actividades ao longo do ano, concretamente como aconteceu no último torneio internacional que organizamos. Nas deslocações para os jogos contamos com a preciosa ajuda dos pais dos atletas. Desta forma temos conseguido fazer face às necessidades de um clube pequeno do interior.

O vosso torneio de minibásquete é hoje em dia uma referência no universo do minibásquete. Este último foi um enorme sucesso tendo contado inclusivamente com a presença do Presidente da Câmara de Castelo Branco. Que importância tem este evento na dinâmica do clube?
Realizar este tipo de torneio sempre foi um dos objectivos da ABA, inicialmente começou por ser apenas mais um encontro promovido entre muitos pelos clubes da região mas a dado momento achamos que tínhamos condições e vontade para fazer algo mais grandioso. Ao longo destes anos temos aberto o torneio a todos os clubes do país e também a clubes Espanhóis. Inicialmente começou por ser um torneio de 2 em 2 anos, na época passada passou a ser anual e na próxima vamos realizar dois, um em Setembro e outro a 18 de Maio. Este ano propusemo-nos a fazer algo memorável e conseguimos juntar mais de 400 minis num dia fantástico que ficará certamente na lembrança de todos, atletas, pais e familiares. Em termos de clube é estimulante saber que o nosso torneio é falado pelas razoes mais positivas. O torneio internacional criou raízes e no próximo ano tentaremos inovar e surpreender todos os que regressarem à nossa cidade para mais um dia dedicado inteiramente ao Minibásquete.

Na sua opinião o que deveria ser feito a nível regional e a nível nacional para aumentar e melhorar o minibásquete em Portugal?
A nível regional temos tentado através do comité distrital organizar encontros para que os mais jovens possam conviver e mostrar as suas aprendizagens, no entanto nem sempre se pode contar com a adesão de todos os clubes da região, que mesmo assim já são poucos. Faltam jogos e encontros com mais frequência. No início das épocas não existe praticamente nenhuma actividade e quando chegamos ao mês de Abril e Maio todos se lembram, “acordam”, e apostam na realização de um encontro, impossibilitando os clubes interessados de participar em todos.

Pensamos que os clubes e as Associações devem investir mais nos escalões minis, deveria haver maior cooperação entre as Associações e os clubes, melhor organização, melhor empenho e maior investimento no futuro dos clubes e do basquetebol a nível nacional. Muitas vezes os clubes, as Associações e a própria Federação, só nos escalões superiores é que se começam a preocupar e ai, já é tarde, começam a existir as carências ao nível de atletas e das equipas. É necessário cimentar a base e este aspecto é muitas vezes esquecido e passado para segundo plano.

Sei que acompanha de perto todas as actividades do minibásquete, que conhece a dinâmica do jamboree. Qual a sua opinião sobre este evento e alguma vez pensou em realizar um jamboree em Castelo Branco?
O jamboree é um evento anual muito importante, apesar de apenas poderem estar presentes 2 ou no máximo 3 participantes por cada associação é uma semana inesquecível para os mais jovens. Respirar basquetebol 24h durante 7 dias, criar novas amizades, partilhar e aprender com treinadores diferentes, proporciona experiências inolvidáveis.

É um evento que não deve terminar e se possível criar outros semelhantes. Realiza-lo em Castelo Branco foi das primeiras ideias após a minha presença em Mirandela. É possível e não esta fora dos nossos objectivos mas no entanto será sempre necessário existirem apoios para a sua realização, principalmente ao nível das infraestruturas.

Mudando de assunto sabemos que tem em mãos um projecto inovador quer em traços largos falar um pouco desse projecto?
É um grande projecto para o basquetebol da nossa cidade e distrito, inovador e super motivante para o clube e treinadores. Congratulamo-nos para já, só com a ideia de o idealizarmos e poder apresenta-lo às entidades oficiais para tentarmos a sua concretização. Todavia, não queríamos estar a falar dele sem o termos iniciado e sem saber se vai ou não avançar. Será um prazer apresenta-lo posteriormente a todos os clubes podendo dar origem a projectos iguais a nível nacional. Seria muito bom.

Para finalizar o que pensa do Planeta Basket?
O Planeta Basket tem dado um contributo muito significativo ao Basquetebol português, através de artigos de opinião, entrevistas, entre outros. É uma referência, lá encontramos as principais novidades sobre a modalidade.

Em termos de basquetebol qual seria a pergunta que gostaria que lhe fizessem e que resposta daria?
Pessoalmente, e porque a pergunta que mais gostaria que fizessem era muito fácil, inverteria a questão: Qual seria a pergunta que não gostaria que lhe fizessem? E a pergunta seria: o basquetebol nacional está bem, já não existem as grandes diferenças do basquetebol do interior para o litoral?

A resposta, infelizmente seria igual, há 20 anos, há 10 anos e hoje. Existem as mesmas diferenças e as mesmas lacunas, as oportunidades não são as mesmas, o trabalho e a dedicação em clubes do litoral e do interior não têm os mesmos resultados. O apoio das entidades públicas, das Associações e da própria Federação não é o mesmo. Apoiam-se e privilegiam-se os grandes distritos, os grandes centros, os grandes clubes, onde os resultados aparecem com mais facilidade e com mais regularidade porque esse mesmo apoio continua crescendo ano após ano, e os pequenos vão continuar a ser sempre pequenos. Não existe política desportiva nacional, distrital e mesmo autárquica.

 

 
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